quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Hoje tem Samba de Lenço!

(Henrique Inglez de Souza e Cláudia Assêncio)

O Brasil tem genuínos representantes de sua cultura em variadas formas de expressão. Das mais populares, o samba desbanca com vantagem as demais. Pergunte a um estrangeiro, por exemplo, o que ele sabe sobre nosso país e o clichê “samba e futebol” vem quase de imediato. Pejorativo? Não, apenas a demonstração do que um patrimônio cultural rico é capaz de promover.

Dentro do samba também há subgêneros que mudam conforme a região. Em São Paulo, a forma mais conhecida atualmente é o cosmopolita. Suas origens apontam raízes cravadas no interior do Estado, em cidades como Piracicaba. Entre essas raízes está o samba de lenço, que tem o uso de um lenço como seu adorno mais característico.

Ficam homens de um lado e mulheres do outro, cada um com seu lenço respondendo à entoada dos cantadores. No enredo das letras destacam-se temas cotidianos e pequenas crônicas de acontecimentos locais: homenagens, sátiras, romance. Tudo embalado à levada de instrumentos de percussão (pandeiro, caixa e chacoalho – geralmente artesanais).

Hoje, o samba de lenço já não acontece com a mesma intensidade de outrora. São poucos os que transmitem o que sabem às gerações emergentes. Um deles é Antônio Carlos Ferraz (foto), que aos 94 anos é um dos últimos remanescentes dos áureos tempos do samba de lenço piracicabano. Os mais velhos começavam o samba e logo vinham os jovens”, recorda-se. “Se alguém cantasse uma modinha bem bonita, outro iria logo querer cantar uma melhor. Era à base do improviso mesmo”.

A Antonio Carlos juntam-se aqueles que ainda mantêm a tradição viva, como sua filha Ana Luiza Ferraz, 61, e o músico e agente cultural Antonio Filogenio de Paula Junior, 37. Os três concederam entrevista sobre o samba de lenço.

Quando é mais comum acontecer as festas com samba de lenço?

Ana Luiza: Especialmente, na época de Festa Junina. Ao invés de se dançar a quadrilha, rezávamos o terço, reuníamos todo o povo e iniciávamos o samba de lenço.

Quais modinhas vocês lembram?

Seu Antônio: Havia umas modinhas engraçadas, como: ‘Em Tietê, muita gente quer ser eu/ Furaram seu chapéu como furaram o meu’. Em seguida, formava-se a festa, com um cantando e outro respondendo.

Ana Luiza: Também tem aquela: ‘O Doutor é bom, Seu Luís ainda melhor/ Dona Ana, prata fina, e Seu Luís é ouro em pó’. A turma respondia: ‘Cocoró-cocó, cocoró-cocó/ o galo passa ruge e a galinha passa pó’.

O que poderia ser feito para reafirmar o samba de lenço?

Junior: Um dos caminhos para revitalizar o samba de lenço é colocar as crianças novamente em contato com essa tradição. É atualizar. Toda cultura tradicional, quando não se torna contemporânea, fica fadada à extinção. Vira um produto folclórico, uma peça de museu. Ela deixa de ser viva por não ser mais autêntica. Por exemplo, não podemos esperar que uma criança hoje cante uma modinha que fale de carro de boi. Ela não convive com isso e nem vê isso. É uma outra realidade. A geração atual tem que dialogar com as informações do seu tempo. Essa atualização é uma adaptação necessária para que a cultura do samba de lenço continue viva.


Vídeos da entrevista:


Afinação do Pandeiro



Modinhas






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2 comentários:

Anônimo disse...

olá. sou estudante e estou fazendo um trabalho sobre o samba de lenço, vou entrevistar os integrantes de piracicaba. O blog de vocês está me ajudando no trabalho. muito obrigada.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.