sábado, 20 de dezembro de 2008

Foi oficializada a entrada do SESI-Piracicaba como parceiro no Fórum Permanente de tradições Populares.

Na manhã do dia 11 de dezembro, representantes do Fórum se reuniram para oficializar a entrada do SESI como parceiro no evento. Nesta Reunião estavam presentes, Chico Galvão e José Henrique representando o SESC, Rita Moura e Iara Machado representado a Associação Pró-Cultura, Marcelo Mazzei e Fátima Monis representando o SESI e o arte educador Gustavo Torrezan.
O interesse em participar do fórum se deu após o Diretor das Unidades de Piracicaba, Marcelo Mazzei, tomar conhecimento do evento, com o intuito de somar forças em favor da cultura popular da cidade.
Durante a reunião foi ressaltado a importância do Rio como grande berço e afunilador da cultura da cidade, entre elas o cururu, que segundo o Mazzei, será tema de um grande festival produzido pelo SESI em 2009, com a possível parceria do Fórum.
Na reunião foi decido utilizar a vocação do SESI, na educação formal, em favor de um dos anseios elencados na carta aberta gerada no 1º Fórum: a promoção e o ensino da cultura popular nas escolas. A intenção, segundo os encaminhamentos tomados, é criar um projeto piloto a ser implantado nas unidades do SESI que servirá de modelo para uma futura implantação na rede municipal de educação. As reuniões para a construção desse projeto piloto iniciarão em Janeiro de 2009.



Rita Moura, Iara Machado, Fatima Monis, Marcelo Mazzei, José Henrique, Chico Galvão.
Foto: Gustavo Torrezan

Realizado "Congelamento" dos Bonecos do Elias

Um grupo de voluntários contribuíram para o chamado “congelamento” dos Bonecos do Elias seguindo as orientações e supervisão do restaurador Everson Bonazzi,. A prática consistiu na limpeza, catalogação e guarda dos bonecos em local seco e seguro. Ao todo foram 17 bonecos que receberam o tratamento inicial. Alguns mostravam se em melhores condições, com estruturas sem grandes danos e roupagens em condições aceitáveis, outros porém, estão em estado de deteriorização avançado, inclusive, com a ausência de algumas partes.

Segundo Rita moura, da Associação Pró-Cultura os bonecos em estado muito precário servirão, após o tratamento museológico, para mostrar o processo de construção criado por Elias e para construir uma memória de como foram encontrados no início do processo. Já aqueles que estão em boas condições, após receberam o tratamento museológico comporão uma sala especial dedicada ao artista na casa do povoador. No processo chamado de congelamento os bonecos, após a aspiração e primeira remoção de animais, fundos e sujeiras que se encontravam alojadas nas peças foram “embalsamados” em um tecido de TNT, para serem conservados e ao mesmo tempo estejam ventilados.



Iara Machado, Lia Desjardins, Everson Bonazzi, Gustavo Torrezan. Foto: Raul Rozados

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Digitalização do Acervo de Nordahl é aprovada

Colocada em pauta no bate-papo após a exibição de “Os Bonecos do Elias dos Bonecos”, a digitalização do acervo de vídeo de Nordahl Neptune sobre Elias Rocha, o Elias dos Bonecos, recebeu sinalização positiva por parte do diretor de comunicação da Câmara de Vereadores, Xilmar Ulisses, na tarde de ontem.


Bonecos do Elias em frente à Casa do Povoador

O ofício com pedido de ajuda à TV Câmara na digitalização do acervo foi protocolado na última quinta-feira, 27, após a reunião sobre o projeto de restauração dos bonecos. Segundo o pedido, aprovado sem restrições por Ulisses, a digitalização das cerca de 200 horas de vídeo será feita na Câmara e gravada em cópias de DVD para o acervo da Câmara, para o Fórum e também para o proprietário e autor dos originais, Nordahl.

Os trabalhos devem começar apenas em janeiro devido à impossibilidade de utilizar a estrutura da TV neste mês, em que acontece grande número de sessões solenes no salão nobre da casa. Todas as despesas com mídias virgens e pessoal será paga pelo legislativo.
(Texto: Iuri Botão)

Restauro dos Bonecos vai sair do papel

Na quinta-feira, 27, um grupo de representantes do Fórum Permanente em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba conseguiu resposta afirmativa do secretário municipal de cultura, Olmir José Lourenço, em relação ao projeto de restauração e preservação dos Bonecos do Elias. Uma das primeiras ações concretas, o projeto é um dos objetivos apontados na carta-aberta escrita durante a primeira edição do Fórum.


Rodrigo Alves, Eva Camargo, Eliane Desjardins,
Raúl Rozados, Iara Machado, Rita Moura e Gustavo Torrezan
após reunião com Olmir Lourenço e João Manuel

Desde a reunião no gabinete do secretário de cultura, em 3 de novembro, o projeto já estava em discussão com a diretora da casa do povoador, Eva Ildez Luiz Camargo e o secretário. Desde a discordância na primeira reunião sobre o que fazer com os bonecos originais até o restauro – Eva defendia a exposição e o Fórum, que se guardasse na Casa do Povoador – o secretário já verificava qual seria o meio de viabilizar a restauração.

Após a determinação de Lourenço de que se elaborasse um projeto para acordo entre a Casa do Povoador e o Fórum, realizou-se nova reunião, no dia 19, desta vez na própria casa do povoador, onde esteve presente também o restaurador Everson Bonazzi. Os membros do fórum conseguiram convencer a diretora da casa através de projeto que especificava prazos, gastos e o trabalho a ser desenvolvido para a restauração.

Finalmente na reunião da quinta-feira passada, novamente na Casa do Povoador, Lourenço aprovou o projeto acordado entre as outras partes e explicou como se daria o restauro: a Prefeitura fará parceria para financiar o projeto através da Oscip Associação Pró-cultura. Assim, como os restauros só têm previsão de começar em fevereiro do ano que vem devido aos trâmites legais, o congelamento – recolhimento e armazenamento em ambiente apropriado para preservação - dos bonecos deve começar nas próximas semanas.

(Texto: Iuri Botão)

domingo, 26 de outubro de 2008

Fórum lança abaixo-assinado em exibição de documentário

(Iuri Botão)

Como parte dos eventos da 9ª Bienal Naïfs do Brasil o Sesc Piracicaba apresentou, na noite de sexta-feira, 24 de outubro, o documentário “Os bonecos do Elias dos Bonecos”, de Nordahl C. Neptune.
Nordahl C. Neptune fala sobre seu documentário antes da exibição

No evento também foi lançado oficialmente um abaixo-assinado em favor dos Bonecos do Elias e da criação de uma semana de tradições populares em Piracicaba, integrando as ações do Fórum Permanente em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba.

O documentário, com duração de 15 minutos, é um retrato de Elias Machado, o Elias dos Bonecos - piracicabano famoso por seus bonecos nas margens do Rio Piracicaba -, e faz parte do projeto de mestrado de Neptune, defendido no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Após a exibição, os espectadores foram convidados para uma roda de conversa acerca da temática dos Bonecos e sua importância, além da discussão do abaixo-assinado e das próximas ações que serão realizadas.



Participantes discutem tradições populares após exibição do documentário

Estiveram presentes, coordenando as discussões, membros do Fórum que participaram da redação da Carta Aberta em Defesa das Tradições populares de Piracicaba, entre eles Francisco Galvão, do Sesc Piracicaba, Rita Moura, da Associação Pró-Cultura, o ator Rau Rozados e o artista plástico Gustavo Torrezan - um dos idealizadores do abaixo assinado – além do próprio Nordahl Neptune, que até então não havia participado do Fórum.

A discussão teve início abordando os temas principais, ou seja, o tratamento museológico dos bonecos do Elias e a criação da semana de tradições populares. A partir daí a conversa se dividiu em duas diretrizes: as medidas que podem ser tomadas de maneira independente e as que necessitam de apoio externo.

Definiu-se que é necessário buscar apoio da Câmara de Vereadores para tornar a semana oficial e permitir sua entrada nas escolas, porém o pensamento é que independente da legislação, o evento acontecerá em 2009, na ocasião da segunda edição do Fórum.

Já em relação ao outro ponto fundamental – a criação de espaços próprios para a preservação do acervo de cultura popular – concluiu-se que serão tomadas providências visando o médio prazo, e que a luta será pela criação de dois espaços diferentes, para os quais terão de ser criados projetos visando apoio de empresas privadas: um museu de cultura popular, para o qual se cogitou o uso da Casa do Povoador; e um Museu de Imagem e Som, cujo primeiro local imaginado foi o cinema do Teatro Municipal, atualmente desocupado.

As medidas imediatas serão o início da digitalização do material de Neptune (cerca de 200 horas de vídeo em fita magnética), além do contato com a Câmara de Vereadores, manifestando o interesse de fazer uso de uma sessão plenária para solicitar a criação da semana e alertar para a necessidade da preservação das tradições populares de Piracicaba, mas principalmente dos bonecos, que estão abandonados devido à morte de Elias.

Na ocasião do uso da Câmara, todos os presentes serão convidados para a próxima reunião do fórum, em data e local ainda indefinidos.

Abaixo-Asssinado

As folhas para o recolhimento de assinaturas já estão sendo distribuídas. Quem tiver interesse em assinar ou retirar material para ajudar na distribuição pode deixar o contato via comentário neste blog ou enviar e-mail para defesadastradicoes@yahoo.com.br, até 30 de Novembro.
Confira na íntegra o documentário "Os Bonecos do Elias dos Bonecos"

domingo, 19 de outubro de 2008

Fórum de cultura tradicional popular reacende mobilização de produtores e artistas

(Sesc Piracicaba)

Foram três dias de intensos debates e apresentações com momentos contagiantes que fizeram o I Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba uma injeção de ânimo na classe de produtores e artistas ligados às manifestações de cultura tradicional popular. No rescaldo das discussões a opinião era comum, o fórum cumpriu a sua tarefa.
“Creio que conseguimos nosso intento, de reacender uma questão de extrema importância para a identidade cultural de Piracicaba”, afirma Chico Galvão, programador cultural do SESC. Junto com a Associação Pró-Cultura e o Conselho Municipal de Cultura, o SESC puxou as rodas de conversa que culminaram com a redação da Carta Aberta (ler abaixo).
No bojo dos debates surgiram representantes do carnaval (Roberto Crivellari) e das religiões de afro-descendentes (Dadá Gomes), que queriam ver esses temas na mesa. No entanto, a comissão de redação da carta optou por manter a diretriz inicial e focar principalmente nas manifestações de cultura tradicional popular, sem se esquecer de anotar as reivindicações extras para desdobrá-las dentro do Conselho Municipal de Cultura.
A carta priorizou tópicos que abraçam todas as manifestações. Itens mais específicos ficaram para uma próxima discussão, já que a intenção de todos é dar prosseguimento às conversas. Idéias como a de repetir em agosto do ano que vem evento semelhante, resgatar a congada de São Benedito, lutar por incentivos ao Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, revitalizar os folcloristas João Chiarini e Alceu Mainardi e criar acervo único dessas manifestações se mantêm na pauta, mas não entraram na carta por possuirem certa especificidade.
Outro ponto positivo do fórum foi o acesso pela Congada do Divino, Batuque de umbigada e do mestre de Samba de lenço, Antonio Ferraz ao Prêmio Mestre Humberto de Maracanã, oferecido pelo MinC (Ministério da Cultura). Antonio Filogênio, agente cultural e batuqueiro irá inscrever o Grupo de Batuque de umbigada de Piracicaba, Capivari e Tietê no prêmio. “O mestre Antonio Ferraz que é o mais antigo gaurdião do samba de lenço também será inscrito”, afirma Filogênio. “Tivemos essa informação por conta do fórum”, detalha.
Roberta Lessa, coordenadora da Congada do Divino, tem a mesma intenção. Quer colocar a centenária manfestação para tentar o prêmio e sonha alto, pretende iniciar o processo de registro da Congada do Divino como patrimônio imaterial no IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Por três dias, a cultura de Piracicaba se viu no espelho e pôde expressar seus mais altos desejos.

Abel Bueno tira da gaveta seu livro de folclore e cede imagens para arquivo do I Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba





GRUPO DE CONGADA DO ESPÍRITO SANTO

O Grupo de Congada do Divino Espírito Santo - GRUCONDESPI surge há décadas em nosso município e se estabelece enquanto um dos reais representantes das manifestações folclóricas do município de Piracicaba, resistindo às muitas intempéries enfrentadas nesse longo espaço de tempo de sua existência. Tem atuado, levando o nome da “Noiva da Colina” sistematicamente nos eventos que participa nos diversos níveis sociais, entre muitos, elencamos algumas de suas efetivas participações: Festa do Divino Espírito Santo, Festa de São Benedito, Encontro das Imagens de Nossa Senhora e São Benedito, inúmeros eventos acadêmicos, Encontros de Medicina na Melhor Idade, Formaturas, Encontros Folclóricos, Congressos Acadêmicos, Missa Sertaneja, Exposições, Festa do Peixe, Encontros Religiosos diversos, Revelando São Paulo, Fóruns e Congressos de diversificadas modalidades. Também sempre é procurado para realizações de pesquisas, filmagens, documentários, sendo muitas vezes alvos de doutorados, mestrados e pós doutorados.
O GRUCONDESPI representa nos festejos folclóricos, a resistência e manutenção do sincretismo do religioso mítico africano, com a religiosidade cristã, constitui um fator significativo para a interpretação da cultura local, pois nela identificam-se elementos, tais como dança, religião, economia, poder público, dentre outros, que integram o contexto e interagem entre si, costurando uma rede de relações sociais. Isso posto, sua presença, tece tênue e sistemático referencial teórico nas áreas de Antropologia Social, Folclore, Educação Física e Sociologia, numa miscigenação do corpo, mente e espírito, através de resgate de técnicas corporais à luz da interpretação cultural, desenhando o que chamamos de transfiguração.
Cada componente do Grupo de Congada do Divino Espírito Santo é um agente responsável pela sua resistência, sobrevivência e vitoriosa superação, seja como organizadores, como “dançadores”, “tocadores”, que se harmoniza com a comunidade nos festejos da cidade – demonstram o modo como lidam com seus corpos em sociedade. Com base em um novo olhar, há de se entender que a congada constitui um significativo elo para a interação de diversos elementos presentes na sociedade. Assim, o corpo que se manifesta – ora em casa, ora na rua - traz impregnada sua cultura: a cultura da congada.
Em dezembro de 2008 em virtude das necessidades de continuidade do grupo, foi eleita uma nova Comissão de Organização, composta por: Roberta Lessa (Coordenação e Contatos). Dinarte E. Rodrigues, (Música), Luiz Alberto Pavinatto (Finanças), Maria Aparecida dos Santos (Memória) e Patrícia F. R. Ferreira (Dança). Assim sendo com o intuito de reavivar o grupo abriram-se vagas para novos componentes formando assim um grupo pára folclórico que dará continuidade, sustentação e apoio aos componentes veteranos que fazem parte do grupo folclórico, totalizando assim sessenta componentes oficialmente inscritos, com idade que varia de 07 a 92 anos.
Visando salvaguardar esse bem imaterial de nosso município essa nova equipe de coordenação deu entrada ao processo de tombamento da Congada do Divino Espírito Santo de Piracicaba a priori junto ao CODEPAC-Piracicaba e em agosto junto ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Outra linha de ação é a de gerar uma identidade jurídica do grupo, bem como agilizar as linhas de ações contidas no projeto “Congada Viva!” em andamento que abarca entre outros temas o resgate da memória do GRUCONDESPI.
Dessa forma, uma outra realidade se instalou junto a esse segmento representativo de nosso folclore local que tende seguir sua trajetória que se iniciou nos primórdios da cultura de Piracicaba.

Roberta Lessa
Coordenação do GRUCONDESPI

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Carta Aberta em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba

"Nós, artistas, agentes, produtores culturais, gestores de associações culturais, poetas, participantes de redes de cultura e pessoas afins, reunidos no SESC Piracicaba, Estado de São Paulo, entre os dias 22 e 24 de Agosto de 2008 no I Fórum em defesa das Tradições Populares de Piracicaba, após vívida discussão sobre os temas que são comuns a todos e trocas de conhecimentos sobre a realidade pontual de cada grupo, entendemos que:

Piracicaba é berço da cultura caipira e abriga em seu seio, manifestações que nos remetem a própria formação do povo brasileiro, miscigenada pelo índio, o negro e o branco colonizador. Forjada nesse ambiente rural, banhada por um rio de muitos causos e lendas, em tempero genuíno, essas manifestações aqui afloradas como o batuque de umbigada, o samba de lenço, samba de roda, o cururu, a catira, a viola caipira, a congada do Divino, a Festa do Divino e o Boneco do Elias, que dialogam permanentemente com o seu tempo e seu espaço, necessitam de um apoio à altura de sua importância para a construção da identidade cultural brasileira.

Para tanto ressaltamos a necessidade de uma intensa política cultural em defesa desse patrimônio intangível, sendo ele definido pela UNESCO em 2003 na Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Intangível como :

“as práticas, representações, expresões, conhecimentos e habilidades – assim como instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais associados a isso – que comunidades, grupos e, em alguns casos, indivíduos reconhecem como parte de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural intangível, transmitido de geração a geração, é constantemente recriado por comunidades e grupos em resposta a seu meio ambiente, a sua interação com a natureza e sua história e fornece-lhes um senso de identidade e continuidade, assim promovendo respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana.”

Dado também que a Constituição brasileira de 1988 introduz no capítulo III, Seçâo 2, artigo 216 a promoção de patrimônio imaterial, culminando esta ação com o decreto 3551 de 04 de agosto de 2000 que institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, apresentamos esta carta que tem como objetivo dar início a um processo de dignificação das tradições aqui colocadas, indicando ações, fazendo alertas e reivindicando a adesão de todas as pessoas, poder público e privado, convocando-os a participar ativamente desse processo.

Inseridos nessa perspectiva propomos:

- Criar novas formas de comunicação entre artistas populares por meio de uma produção cultural baseada em um programa de oficinas e apresentações contínuas dos grupos e artistas para fortalecer os laços sociais e fomentar a criação de público para uma ação política cultural.

- Propor atividades que contemplem as origens de cada uma das manifestações da arte popular tradicional, incluindo no processo, ações práticas e teóricas, sempre sendo as mesmas repensadas através da praxis;

- Buscar na parceria ou nos convênios com o poder público e privado a justa e digna remuneração das apresentações, dos cursos, das oficinas e apoio aos projetos que desenvolvem esta temática ;

- Oferecer oficinas sobre a cultura popular de Piracicaba, embasadas nas lei federais 10.639 e 11.645/8, em escolas públicas (estadual e municipal) e particulares, equipamenteos de cultura e espaços alternativos (parques, sindicato, universidades, ONGs, OSCIPs entre outros.)

- Porporcionar ações permanentes para capacitação e formação de agentes multiplicadores.

- Fortalecer as diversas manifestações em seus locais de origem.

Piracicaba, 24 de agosto de 2008.

I Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba

Sueli Pereira Silva – Esalq/USP
Julia Corrêa Giannetti – dançarina
Vanderli Bastos – Batuque de umbigada
Ediana Maria de Arruda – Samba de lenço
Eduardo Gomes T’osumare – religiões de afro-descendência
Carlos Roberto Crivellari – carnaval
Fátima Ap. Eugênio – Sociedade Beneficente 13 de maio
Luiz Valério – Cururu
Antonio Filogênio de Paula Jr – Batuque de umbigada
Iara Machado – antropóloga
Olívio Antonio Menghini – Congada do Divino
Dirceu José Chiode – Cururu
Naiara Lima – COOPEP e CELACC
Rita Moura – Associação Pró-Cultura de Piracicaba
Jonatas Antunes – Cururu
Rau Rozados – ator
Abel Bueno – Cururu
Moacir Siqueira – Cururu
Antonio Carlos de Oliveira Jr. – Poeta sertanejo
Roberta Lessa – Congada do Divino
Pedro Chiarini Neto – Congada do Divino
Stevenson Moschini Carlos – Congada do Divino
Manuel Guglielmo – Conselho Municipal de Cultura
Bandeirante – Cururu
Francisco Galvão - SESC

Maria Virginia G M. Pinton, Artista Plástica e Arte educadora


(Mayara Cristofoletti)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Leitura da Carta Aberta em Defesa das Tradições Piracicabanas marca o encerramento do Fórum

(Vanessa Piazza)

Com o objetivo de alertar as autoridades locais, estaduais e nacionais sobre a necessidade de preservação do patrimônio cultural imaterial da cidade, o 1° Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba, ocorrido no Sesc Piracicaba entre os dias 22 e 24 de agosto, encerrou as atividades com a leitura de uma Carta Aberta que propõe ações para o fortalecimento das manifestações populares da cidade, bem como para a manutenção da identidade cultural do município. (Leia o documento na íntegra)

De acordo com Chico Galvão, programador cultural do Sesc, “a Carta em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba foi redigida a muitas mãos e a expectativa é que ela traga mais apoio por parte das iniciativas privada e pública, para que os elementos da cultura popular da cidade possam ganhar mais visibilidade na comunidade local e atrair um número maior de admiradores e protetores comprometidos com a manutenção das características originais das manifestações”.

O conteúdo do documento foi elaborado de acordo com as carências e necessidades apresentadas no decorrer do Fórum por integrantes e representantes das diversas manifestações piracicabanas, como o batuque de umbigada, o samba de lenço, o samba de roda, o cururu, a catira, a congada do Divino e os Bonecos do Elias.

Ainda na perspectiva da conservação e resguardo da cultura popular de Piracicaba, pretende-se criar um calendário anual com eventos que busquem fortalecer os laços sociais entre as tradições e também fomentar a criação de um público que participe ativamente das manifestações.

Vale ressaltar que este foi apenas o ponto de partida. Portanto, faz-se necessário que outros Fóruns ocorram e que a comunidade em geral se comprometa com o rico acervo cultural da cidade, para que a História e a Memória do povo piracicabano possam ser mantidas e preservadas.

O Fórum foi organizado pelo Conselho Municipal de Cultura (ConCult), pela Associação Pró-Cultura, pelo Sesc Piracicaba e contou com a parceria do curso de jornalismo da Unimep ( Universidade Metodista de Piracicaba).


Congada do Divino se apresenta no último dia do Fórum

(Mayara Cristofoletti)

No domingo, dia 24, o 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba abriu seu último dia de discussões com uma apresentação da Congada do Divino, na lanchonete.

A apresentação contou com todos os cinco tipos de dança que o grupo realiza, como a Dança do Lenço e Caninha Verde e, no final, até mesmo os espectadores foram convidados a dançar junto ao grupo.

O grupo da Congada do Divino foi uma das tradições defendidas pelo Fórum devido a sua importância histórica na tradição cultural da cidade. A Congada faz parte de uma das principais comemorações de Piracicaba, a Festa do Divino, uma antiga manifestação religiosa em devoção ao Divino Espírito Santo.


Confira trecho da apresentação do grupo:

Rodas de Conversa unem tradições visando ações em conjunto

(Iuri Botão e Karla Morato)

As rodas de conversa do sábado, 23, foram marcadas por uma característica principal: ressonância. Enquanto a programação previa rodas individuais para que cada grupo discutisse seus problemas e apresentasse novas soluções, o que ocorreu foi uma roda unificada, coordenada por Manuel Guglielmo, do Conselho Municipal de Cultura, e Rita Moura, da Associação Pró-Cultura de Piracicaba, que repetiu muitas das discussões da manhã de sábado.

Após a apresentação de Cururu, todos os representantes das tradições que estavam no SESC formaram uma única roda de conversa, visando que os problemas específicos de cada tradição fossem discutidos por representantes de todas elas.

Dando início à conversa, Guglielmo sugeriu que se discutisse a possibilidade de criação de um espaço que servisse tanto para educação e propagação da tradição, quanto para que os “cururueiros” pudessem se apresentar com mais freqüência, criando assim um público.

Após esse momento, a tônica da discussão ficou em torno da necessidade de união entre as manifestações. A divisão de opiniões era entre a criação de um único ponto, para todas as tradições, ou de um circuito, para facilitar o acesso da população da periferia, que teria dificuldade de se unir em um só local por conta do transporte. Em meio à discussão sobre a criação de um novo ponto, a pesquisadora Iara Machado colocou a questão da burocracia para se criar um novo local e contar com verbas municipais, e que, assim, seria melhor usar espaços já existentes.

Outra proposta referente às verbas do poder público foi a transformação da Casa do Povoador em museu, o que contaria com verbas do poder público. Gustavo Torrezan citou apenas que a Casa do Povoador teria dificuldade de abrigar todas as tradições de uma só vez.

Finalmente, Vanderlei Bastos, do Batuque de Umbigada e Fátima , citaram a necessidade de parceria com a Educação, para que se criassem propostas pedagógicas e que o espaço das escolas pudesse ser usado também com essa finalidade.

No fim da tarde a decisão foi de concluir o debate no domingo.

Cururueiros dão show e animam Fórum

(Vanessa Faria)

As atividades do sábado à tarde, segundo dia do 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba, tiverem início com a apresentação de Cururu, que reuniu diversos curueiros da cidade.



A apresentação contou com a participação de Abel da Silva Bueno, cururueiro há 54 anos. Apaixonado pela tradição, ele se apresenta todos os sábados na região de Piracicaba, onde segundo ele, nasceu a tradição do cururu, e o seu dom de fazer rimas. “Tudo nos serve de inspiração para a criação das rimas, o canto das piracemas, o rio de Piracicaba e a natureza”, disse após a exibição.

Abel Bueno considera importante a iniciativa do Fórum de divulgar o folclore brasileiro e diz também que o poder público poderia dar mais atenção para as tradições populares, incentivando as crianças e os jovens através de oficinas de folclore ou fornecendo um espaço para que elas aconteçam.

domingo, 24 de agosto de 2008

Lideranças iniciam debate de Carta Aberta

(César Cabrera)

A Comissão responsável pela elaboração da Carta Aberta em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba realizou sua primeira reunião na manhã deste sábado ,23. O grupo é formado por representantes da Catira, dos Bonecos de Elias, do Cururu, da Congada do Divino, do Batuque de Umbigada, do Carnaval, do Samba de Lenço, membros de associações culturais, do Conselho Municipal de Cultura e outras instituições da cidade interessadas no tema.



O objetivo foi dar início às discussões dos assuntos que serão incluídos na Carta, que será concluída na tarde de amanhã (24). O encontro teve início com a exposição pelo Programador Cultural do Sesc, Francisco Galvão, o Chico, da proposta de dinâmica a ser usada na reunião.

Um ponto relevante do encontro, unânime na opinião de todos, foi a falta de um representante do ensino do município. “Seria interessante que houvesse alguém da Diretoria de Ensino nesta reunião”, lembrou a professora de arte e artista plástica Maria Virginia Pinton. Luiz Veloso, do Cururu, defendeu também a importância de que as tradições sejam inseridas no ambiente educacional, e afirmou que “a educação é fundamental em todas as atividades”. Seguindo esta linha, Vanderlei Bastos - do Batuque de Umbigada - falou que “tudo é questão de educação. As manifestações Culturais do nosso município devem chegar às crianças também através das escolas”.

Outro assunto que fez parte da colocação da maioria dos presentes foi a importância de resgatar, registrar e transferir para as gerações futuras cada tradição. Para Roberta Lessa – uma das representantes da Congada do Divino - “se a gente não guarda a memória, ficamos sem raiz”. “As manifestações que fazem nossas raízes”, complementou Manuel Guglielmo – do Conselho Municipal de Cultura.

Após todos exporem suas idéias sobre o tema, deu-se início a colocação das propostas para elaboração do documento e também de demais ações culturais para resgatar o patrimônio imaterial do município. Os principais pontos foram:

- Levantamento dos espaços físicos disponíveis para futuras apresentações dos grupos;

- Inclusão dos números das leis existentes relacionadas à cultura; inclusive o número da lei municipal que obriga o prefeito eleito no próximo ano (2009) à criação e construção de um espaço que abrigue as manifestações culturais;

- Exigir mudanças – quando necessário - nas leis existentes, para melhor proteger as manifestações imateriais (foi lembrado que o Codepac - Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico Cultural não tem leis que protejam manifestações culturais imateriais);

- Cobrança pessoal – e não só através da carta - por parte dos membros do Conselho junto às autoridades municipais;

- Realização de manifestação cultural conjunta, onde estejam presentes todas as manifestações do município;

- Inclusão do poema de autoria de “Marcha Lenta”, lido na noite de ontem (22);

Vale lembrar que no período da tarde de hoje serão realizadas rodas de conversa de cada tradição, onde surgirão novas idéias a serem incluídas no documento final.

Poeta declama na abertura do Fórum

(Camila Gusmão)


Marcha Lenta, Poeta Sertanejo declamou na abertura do Fórum a poesia “Noiva da Colina” de sua autoria.
Antonio Carlos de Oliveira Júnior, mais conhecido como Marcha Lenta, já publicou três livros, o mais recente “Poesias Sertanejas”.




Noiva da Colina

Dia primeiro de Agosto
É um dia de muito gosto
Parece que vejo o rosto
Daquela linda menina
Que de noiva se vestiu
E tanta glória conseguiu
Na linda cachoeira do rio
Formando serração fina
As veis eu olho pro céu
Contemplando tiro o chapéu
Parece que vejo o véu
Da linda noiva da colina
Piracicaba tem muito progresso
A Deus eu sempre peço
Que aumente o sucesso
Com a proteção Divina
É coisa sincera e pura
Que vai tê muita ventura
Feita com grande estrutura
Também muita disciprina
Fais coisas de grande valor
Que transporta pro exterior
Fabricado com muito amor
Da linda noiva da colina
Piracicaba é potencial
É cidade industrial
O antigo Engenho Central
Foi uma das primeira Usina
Que dos grandes cafezais
Transformou em canaviais
Que até combustível fais,
Substituindo a gasolina
Tem no esporte um grande membro
Da linda Noiva da Colina
Piracicaba é uma cidade paulista
Que tem muitos artista
O combate dos repentista
Num precisa carabina
O armamento é a viola
O violeiro que controla
Piracicaba tem boa escola
Pra ensiná a medicina
O meis de agosto temos festejano
Piracicaba aniversariano
Duzentos e quarenta e um anos
Parabéns linda Noiva da Colina!




Marcha Lenta

Marcha Lenta declama "Noiva da Colina":

sábado, 23 de agosto de 2008

Antropóloga mostra importância do patrimônio imaterial

Texto de Camila Gusmão e Vanessa Haas

“Patrimônio é aquilo que herdamos, seja natural, imaterial ou material”. A afirmação foi feita pela antropóloga Iara Machado, em palestra na abertura do I Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba.
Segundo ela, tudo é patrimônio se for reconhecido como tal, ou seja, o sentido dado é imaterial, mas o valor das coisas não, a tradição de cada país, Estado e cidade também é um patrimônio.
Iara salientou que a palavra tradição significa a transmissão de sentimentos, ações, ideais.”È um laço do passado com o presente e o futuro, é uma identidade móvel, mas com uma raiz que a torna fixa em um local”, disse.

Em Piracicaba, segundo a pesquisadora existem patrimônios reconhecidos por todos os habitantes da cidade, tal como o Engenho Central, Rua do Porto, Casa do Artesão, Mirante entre outros, porém existem patrimônios que nem todos conhecem ou valorizam.Estes são os patrimônios imateriais que representam a história, a tradição e a cultura da cidade.

Foto: Vanessa Haas














"Por que não a Festa do Divino ser ensinada nas escolas municipais?", propõe Iara Machado

Por outro lado, segundo ela, Catira, Cururu, Batuque de Umbigada, Samba de lenço, Congada do Divino e Bonecos de Elias são alguns desses patrimônios que estão se tornando cada vez mais “ocultos” perante a comunidade piracicabana.

De acordo com a antropóloga Iara Machado, a globalização é um fator responsável por essa perda dos costumes. Ela torna as coisas iguais e com um sentido consumista e não cultural.
Em sua opinião, tudo acaba tornando-se alvo de negócios e transações de compra e venda, as tradições não devem ser mantidas por essa lógica, mas sim por representarem um povo, uma história.

Após a palestra com Iara, o jornalista e representente do Celacc (Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação) Denis Oliveira, falou sobre a importência da preservação das tradições populares. Fez críticas aos meios de comunicação, que não oferecem espaços para a divulgação dessas manifestações, contribuindo para o seu desaparecimento.


Foto: Vanessa Haas














Cerca de 140 pessoas compareceram à abertura do Fórum no SESC Piracicaba

Viva a cultura popular de Piracicaba!

Texto de Henrique Inglez de Souza

A manifestação dos representantes das entidades responsáveis pela oraganização do 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba, na abertura do evento, na sexta-feira, 22, definiu os seus objetivos e as expectativas dos participantes. Manuel Guglielmo, do Conselho Municipal de Cultura, Rita Moura, da Associação Pró-Cultura de Piracicaba, e Chico Galvão, programador cultural do Sesc Piracicaba, defenderam a importância crucial do envolvimento da comunidade na defesa das manifestações da cultura popular da cidade.




Foto: Camila Gusmão






Chico Galvão, programador cultural do SESC Piracicaba
Segundo Chico Galvão, o que está em jogo, afinal de contas, são tesouros da cultura piracicabana. “O objetivo desse fórum é maior”, explicou. “Pretendemos redigir uma carta aberta em defesa dessas tradições, que hoje encontram-se ameaçadas, algumas delas até pelo desaparecimento”, completou. E, para dar o tom da importância do tema, enfatizou: “Viva a cultura popular de Piracicaba!”.

Foto: Camila Gusmão














Manuel Guglielmo, do Conselho Municipal de Cultura e Rita Moura da Associação Pró-Cultura de Piracicaba
Chico Galvão lê texto de sua autoria na abertura do Fórum:

Batuque de Umbigada abre Fórum

Texto de João Lopes e Iuri Botão
O 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba teve início na noite de sexta-feira, 22 de agosto. O grupo Batuque de Umbigada começou sua apresentação às 20h, com a participação do mestre batuqueiro Herculano, da cidade de Tietê.
Foto: Camila Pinto














Apresentação do Batuque de Umbigada na abertura do Fórum

Vanderlei Bastos, organizador e participante, falou sobre a história e as origens da dança, além de contextualizar os espectadores a respeito do que acontecia no palco. Participaram da apresentação jovens do projeto “Casa do Batuqueiro”, que fazem parte da nova geração do batuque de Piracicaba.

Mestre Herculano ainda cantou e tocou músicas conhecidas do público, como uma adaptação da música de Newton de Almeida Mello, que hoje é hino de Piracicaba, feita por mestre Dado.
Após o Batuque, o poeta piracicabano Marcha Lenta declamou uma poesia em homenagem ao aniversário da cidade de Piracicaba.
Confira trecho da apresentação do Batuque de Umbigada, no Teatro do Sesc:

Catira: tradição dos pés e das mãos

Texto de Rafaela Ometto e Vanessa A. Haas

Uma dança acompanhada pelo som de uma viola e pelas batidas de pés e mãos resume a Catira. A tradição cultural é preservada em Piracicaba unicamente pela família Cantovicz, e representada em uma única palavra: envolvimento. O bater dos pés e das mãos acompanhando o som da viola e as rimas do violeiro remetem às antigas comemorações a vários santos, porém, ela não é mais tão conhecida como antes.

Foto: Rafaela Ometto catira









Família Cantovicz dançando a Catira

Em Piracicaba, a Catira é passada de geração em geração, através de uma família que se reúne para cantar e dançar ao som da viola, embalada por Laurindo, 70 anos, único violeiro que “bate bem a Catira”, e se desloca de Anhembi a Piracicaba simplesmente para fazer o que mais ama. Seu filho, Valmir, 44 anos, o acompanha na cantoria e considera importante que haja essa transmissão de valores familiares, uma vez que eles são os únicos representantes que restam da dança. O tema abordado nas rimas esquematizadas ao som da moda de viola enfoca a natureza, a religião e principalmente a importância que tem a preservação dessa tradição.

Falta de apoio do poder público e desconhecimento por parte da população “nativa” do interior, transformaram a Catira numa palavra estranha de se ouvir e se falar. Graziela Cantovicz, 34 anos, dança entre os homens da família e pode ser considerada uma das poucas mulheres que participa. Ela enfatiza que a falta de incentivo para tradições populares num geral existe sim, e garante que a cidade deixa se receber turistas e se tornar também reconhecida por essas atividades por não investir adequadamente na cultura local, que é muito rica.

Foto: Rafaela Ometto

Catira: tradição de pai para filho


Por conta do Dia do Folclore, comemorado no dia 22 de agosto, acontecem mais apresentações das manifestações culturais, porém, segundo Clayson, 36 anos, é somente nesta época que acontecem. Nas apresentações já feitas pela família Cantovicz, que acontecem normalmente em São Paulo, o público recepciona muito bem, acolhe e gosta da dança, passando a admirar a verdadeira Catira que a família transmite.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Batuque de Umbigada

Texto de João Lopes e Karla Morato


O “Batuque de umbigada” dança originaria da África trazida ao Brasil pelos navios negreiros na época de colonização e instalada na região do Médio Tietê (Tietê, Porto Feliz, Laranjal, Pereiras, Capivari, Botucatu, Piracicaba, Limeira, Rio Claro, São Pedro, Itu, Tatuí) é uma manifestação que vem sendo preservada em Piracicaba e transmitida por gerações.


Foto: Claudia Assêncio








Representantes do Batuque de Umbigada em quatro gerações


Dança que assemelha o movimento do corpo com o axé e a capoeira tem como principal função festejar a fertilidade. “O Batuque é uma manifestação em que, junto à batucada, há uma dança na qual um homem e uma mulher encostam seus umbigos como parte da coreografia”, comenta o representante da tradição cultural Vanderlei Bastos. O elemento principal da coreografia é a "umbigada", ou seja, quando o ventre da mulher bate à altura do ventre do homem. Os participantes dão passos laterais arrastados, depois levantam os braços, batendo palmas acima da cabeça, inclinam o corpo para trás e dão vigorosas batidas com os ventres. Esse gesto é repetido ao fim de todos os passos. “A umbigada tem uma espiritualidade muito grande. Dentro da cultura banto existe a visão de que o umbigo é a nossa primeira boca e o ventre materno a primeira casa, a umbigada celebra o momento único em que eles se tocam, é como uma ode, um agradecimento ao dom da concepção, uma ação rápida e mágica, materializada através da dança” explica Bastos.

Na dança são utilizados os seguintes instrumentos: o tambú, uma espécie de tambor feito de tronco oco de árvore; o quinzengue, um tambor mais agudo que faz a marcação rítmica do tambú e nele se apóia; as matracas, que são os paus que batem no tambú do lado oposto do couro e os guaiás, chocalhos de metal em forma de cones ligados. todos os instrumentos que levam couro, são afinados em uma fogueira, tornando mais mágico e característico o ritual. Em cada parte do Brasil o batuque recebe algumas variações tornando cada vez mais característico esse estilo que deu origem ao tão famoso samba.

Alguns grupos preservam essa tradicional dança fazendo festas e eventos para trazer o povo para essas belíssimas demonstrações de cultura afro-descendente. As festanças mais comuns são as de datas fixas, como a do dia 13 de maio, a festa de São Benedito em Tietê e o sábado de Aleluia. Há workshops para levar a manifestação à população e acabar com os preconceitos sobre as culturas africanas e indígenas.


Foto: Claudia Assêncio

Dona Benedita, representante da primeira
geração do Batuque de Umbigada

Congada do Divino: renovação e preservação da história

Texto de Iuri Botão e Mariana Fiocco


A Congada do Divino de Piracicaba, que tem coordenação de Roberta Lessa, mantém um grupo folclórico que preserva suas tradições. Além do grupo principal, formado por cerca de 60 adultos, há ainda outros projetos como a “Congada Viva”, que busca reunir arquivo fotográfico e documental a respeito da história do movimento, e o o “Congada Mirim”, para-folclórico de crianças para dar sustentação ao principal.





A Congada do Divino teve origem em uma dança pagã que homenageava os reis do Congo, na África. Uma vez no Brasil, trazida pelos escravos, a dança passou a ter caráter de resistência ao aculturamento a que eram submetidos. Encampada pela Irmandade do Divino Espírito Santo, ela foi “divinada, para que pudesse fazer parte dos da Festa do Divino”, segundo Roberta.

Durante a apresentação, são feitas cinco danças diferentes: a Congada, de saudação entre o Rei e a Rainha; a Dança do Lenço, que é um ritual de acasalamento; a do Tangarás, que é uma saudação à Piracicaba e ao Rio; a Caninha Verde, que tem objetivo de descontrair; e o Baixão, que é de abertura. Nos ensaios, bem como em apresentações em eventos não-religiosos, a imagem de Nossa Senhora permanece deitada, só sendo colocada em pé nas festas religiosas.

Segundo Roberta, a Congada de Piracicaba pleiteia o tombamento oficial enquanto patrimônio histórico e cultural do município junto ao Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba) além de estarem em contato com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para dar maior fidelidade à Congada enquanto manifestação folclórica.

A Rainha, Maria Aparecida dos Santos (foto), “dona Tita” de 79 anos, que participa da Congada há 52 anos, considera que desde que participa da Congada não ocorreram grandes mudanças na dança. Patrícia Macedo, 22 anos, é regente desde os 12 e tem opinião diferente. Ela considera que a dança sofreu várias mudanças nos últimos anos devido ao “envelhecimento” dos participantes, que atualmente não têm condições de fazer os mesmo giros de antigamente.

O grupo piracicabano costuma se apresentar em diversas ocasiões e locais do país, quando são convidados. A apresentação principal ocorre anualmente na Festa do Divino, na segunda semana do mês de Julho.



Depoimento de "Dona Tita", Rainha da Congada



Trecho de ensaio da Congada do Divino, no Largo dos Pescadores

Cururu: uma paixão a ser preservada

Texto de Vanessa Haas e Camila Gusmão

Tradição folclórica do interior de São Paulo, o cururu tem presença importante em Piracicab e será uma das manifestações defendidas no 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba.

Cururu é o desafio trovado ao som de violas, mais comum no Médio Tietê. Seus respresentantes são numerosos e respeitados cururueiros e trovadores. Não há Festa ou Pouso do Divino sem o som do Cururu, que muitas vezes se prolonga pela noite afora com o revezamento de vários cururueiros.










Com presença significativa na região do Vale do Tietê, nas cidades de Conchas, Laranjal Paulista, Piracicaba, Tietê, Porto Feliz, Tatúi, o Cururu já foi apresentado no exterior por vários cururueiros.Um trovador que teve experiência foi Antônio Santos Filho, 73, mais conhecido como Bandeirante, que se apresentou aos franceses juntamente com seu parceiro Mané Moreira.


Confira depoimentos do curueiro Bandeirante sobre o tema:


Como foi representar o Brasil na França?
Bandeirante: Tive a felicidade de representar o folclore brasileiro na Europa. Foi uma virtude para nós representar o Brasil no exterior e essa foi uma coisa de Deus. Eu participo do folclore brasileiro mesmo, toda tradição é comigo mesmo”.

Mazero gravou CDs e DVD
O conhecido cururueiro João Mazero já gravou duas séries de Cds - “Gracia do Cururu” e “Os ban ban ban do Cururu” e um DVD - “Piracicaba x Sorocaba”. Para ele, mais que uma profissão, o cururu é uma paixão.

Confira algumas de suas falas:

Onde o senhor já se apresentou?
Mazero: Gosto muito dessa profissão, tanto canto cururu sério como brincando. Faço shows e já tive a felicidade de me apresentar em todos os canais de televisão. Tô no meio desses campeões ai, Abel Bueno, Bandeirante. Comecei a cantar o Cururu transmitido pela rádio Educativa FM, de Piracicaba, e dali em diante já cantei em vários pousos do Divino, tenho muita amizade com todos os cantadores.

O Cururu original sofreu muitas mudanças?
Mazero: Sim teve. Antigamente o Cururu era cantado com muito respeito, a gente pedia licença para o dona da casa onde seria o pouso, hoje é mais brincadeira.

Tradição do Cururu não recebe apoio

Segundo Abel Bueno (foto) , 75, cururueiro desde 1954, com prestígio nacional, o nome Cururu tem origem em dois significados: “o caldo de feijão que era servido antigamente com caruru, antes de se iniciarem as orações, e o sapo cururu que pula em roda, pois o Cururu era cantado em roda”.

Seu Abel conta que cantava Cururu quando este ainda era tido como uma oração, uma devoção a algum santo. O cururu era cantado nas festas do divino e tinha temas religiosos, mas com o tempo a tradição foi se modernizando e atualmente é um desafio de quatro cururueiros, dois contra dois.
“O Cururu em si nunca vai acabar, apenas os cururueiros que morrem, o Cururu permanece. O Cururu chegou em Piracicaba em 1937, antes dos pousos, o qual o primeiro foi realizado em 1948 na zona urbana de Piracicaba, na casa do Ribeiro, ele existe a muito tempo”, conta Abel.

Abel, Bandeirante, Milo da Viola e Dirceu Chiodi também não se conformam com a falta de apoio ao Cururu e as demais tradições. “Não há mais incentivo, os mais novos não gostam do Cururu e com razão, pois não foi ensinado a eles o sentido disso, não foi mostrado o Cururu legítimo”, fala Bandeirante.

“Se os nossos políticos incentivassem essas tradições, seria mais fácil ser um Cururueiro e poder ensinar o que é o cururu. Falta apoio. Falta valorizar a história”, enfatiza Abel Bueno

Vídeos da entrevista:





Caninha Verde



Cururu Legítimo



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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Hoje tem Samba de Lenço!

(Henrique Inglez de Souza e Cláudia Assêncio)

O Brasil tem genuínos representantes de sua cultura em variadas formas de expressão. Das mais populares, o samba desbanca com vantagem as demais. Pergunte a um estrangeiro, por exemplo, o que ele sabe sobre nosso país e o clichê “samba e futebol” vem quase de imediato. Pejorativo? Não, apenas a demonstração do que um patrimônio cultural rico é capaz de promover.

Dentro do samba também há subgêneros que mudam conforme a região. Em São Paulo, a forma mais conhecida atualmente é o cosmopolita. Suas origens apontam raízes cravadas no interior do Estado, em cidades como Piracicaba. Entre essas raízes está o samba de lenço, que tem o uso de um lenço como seu adorno mais característico.

Ficam homens de um lado e mulheres do outro, cada um com seu lenço respondendo à entoada dos cantadores. No enredo das letras destacam-se temas cotidianos e pequenas crônicas de acontecimentos locais: homenagens, sátiras, romance. Tudo embalado à levada de instrumentos de percussão (pandeiro, caixa e chacoalho – geralmente artesanais).

Hoje, o samba de lenço já não acontece com a mesma intensidade de outrora. São poucos os que transmitem o que sabem às gerações emergentes. Um deles é Antônio Carlos Ferraz (foto), que aos 94 anos é um dos últimos remanescentes dos áureos tempos do samba de lenço piracicabano. Os mais velhos começavam o samba e logo vinham os jovens”, recorda-se. “Se alguém cantasse uma modinha bem bonita, outro iria logo querer cantar uma melhor. Era à base do improviso mesmo”.

A Antonio Carlos juntam-se aqueles que ainda mantêm a tradição viva, como sua filha Ana Luiza Ferraz, 61, e o músico e agente cultural Antonio Filogenio de Paula Junior, 37. Os três concederam entrevista sobre o samba de lenço.

Quando é mais comum acontecer as festas com samba de lenço?

Ana Luiza: Especialmente, na época de Festa Junina. Ao invés de se dançar a quadrilha, rezávamos o terço, reuníamos todo o povo e iniciávamos o samba de lenço.

Quais modinhas vocês lembram?

Seu Antônio: Havia umas modinhas engraçadas, como: ‘Em Tietê, muita gente quer ser eu/ Furaram seu chapéu como furaram o meu’. Em seguida, formava-se a festa, com um cantando e outro respondendo.

Ana Luiza: Também tem aquela: ‘O Doutor é bom, Seu Luís ainda melhor/ Dona Ana, prata fina, e Seu Luís é ouro em pó’. A turma respondia: ‘Cocoró-cocó, cocoró-cocó/ o galo passa ruge e a galinha passa pó’.

O que poderia ser feito para reafirmar o samba de lenço?

Junior: Um dos caminhos para revitalizar o samba de lenço é colocar as crianças novamente em contato com essa tradição. É atualizar. Toda cultura tradicional, quando não se torna contemporânea, fica fadada à extinção. Vira um produto folclórico, uma peça de museu. Ela deixa de ser viva por não ser mais autêntica. Por exemplo, não podemos esperar que uma criança hoje cante uma modinha que fale de carro de boi. Ela não convive com isso e nem vê isso. É uma outra realidade. A geração atual tem que dialogar com as informações do seu tempo. Essa atualização é uma adaptação necessária para que a cultura do samba de lenço continue viva.


Vídeos da entrevista:


Afinação do Pandeiro



Modinhas






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