terça-feira, 26 de agosto de 2008

Carta Aberta em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba

"Nós, artistas, agentes, produtores culturais, gestores de associações culturais, poetas, participantes de redes de cultura e pessoas afins, reunidos no SESC Piracicaba, Estado de São Paulo, entre os dias 22 e 24 de Agosto de 2008 no I Fórum em defesa das Tradições Populares de Piracicaba, após vívida discussão sobre os temas que são comuns a todos e trocas de conhecimentos sobre a realidade pontual de cada grupo, entendemos que:

Piracicaba é berço da cultura caipira e abriga em seu seio, manifestações que nos remetem a própria formação do povo brasileiro, miscigenada pelo índio, o negro e o branco colonizador. Forjada nesse ambiente rural, banhada por um rio de muitos causos e lendas, em tempero genuíno, essas manifestações aqui afloradas como o batuque de umbigada, o samba de lenço, samba de roda, o cururu, a catira, a viola caipira, a congada do Divino, a Festa do Divino e o Boneco do Elias, que dialogam permanentemente com o seu tempo e seu espaço, necessitam de um apoio à altura de sua importância para a construção da identidade cultural brasileira.

Para tanto ressaltamos a necessidade de uma intensa política cultural em defesa desse patrimônio intangível, sendo ele definido pela UNESCO em 2003 na Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Intangível como :

“as práticas, representações, expresões, conhecimentos e habilidades – assim como instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais associados a isso – que comunidades, grupos e, em alguns casos, indivíduos reconhecem como parte de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural intangível, transmitido de geração a geração, é constantemente recriado por comunidades e grupos em resposta a seu meio ambiente, a sua interação com a natureza e sua história e fornece-lhes um senso de identidade e continuidade, assim promovendo respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana.”

Dado também que a Constituição brasileira de 1988 introduz no capítulo III, Seçâo 2, artigo 216 a promoção de patrimônio imaterial, culminando esta ação com o decreto 3551 de 04 de agosto de 2000 que institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, apresentamos esta carta que tem como objetivo dar início a um processo de dignificação das tradições aqui colocadas, indicando ações, fazendo alertas e reivindicando a adesão de todas as pessoas, poder público e privado, convocando-os a participar ativamente desse processo.

Inseridos nessa perspectiva propomos:

- Criar novas formas de comunicação entre artistas populares por meio de uma produção cultural baseada em um programa de oficinas e apresentações contínuas dos grupos e artistas para fortalecer os laços sociais e fomentar a criação de público para uma ação política cultural.

- Propor atividades que contemplem as origens de cada uma das manifestações da arte popular tradicional, incluindo no processo, ações práticas e teóricas, sempre sendo as mesmas repensadas através da praxis;

- Buscar na parceria ou nos convênios com o poder público e privado a justa e digna remuneração das apresentações, dos cursos, das oficinas e apoio aos projetos que desenvolvem esta temática ;

- Oferecer oficinas sobre a cultura popular de Piracicaba, embasadas nas lei federais 10.639 e 11.645/8, em escolas públicas (estadual e municipal) e particulares, equipamenteos de cultura e espaços alternativos (parques, sindicato, universidades, ONGs, OSCIPs entre outros.)

- Porporcionar ações permanentes para capacitação e formação de agentes multiplicadores.

- Fortalecer as diversas manifestações em seus locais de origem.

Piracicaba, 24 de agosto de 2008.

I Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba

Sueli Pereira Silva – Esalq/USP
Julia Corrêa Giannetti – dançarina
Vanderli Bastos – Batuque de umbigada
Ediana Maria de Arruda – Samba de lenço
Eduardo Gomes T’osumare – religiões de afro-descendência
Carlos Roberto Crivellari – carnaval
Fátima Ap. Eugênio – Sociedade Beneficente 13 de maio
Luiz Valério – Cururu
Antonio Filogênio de Paula Jr – Batuque de umbigada
Iara Machado – antropóloga
Olívio Antonio Menghini – Congada do Divino
Dirceu José Chiode – Cururu
Naiara Lima – COOPEP e CELACC
Rita Moura – Associação Pró-Cultura de Piracicaba
Jonatas Antunes – Cururu
Rau Rozados – ator
Abel Bueno – Cururu
Moacir Siqueira – Cururu
Antonio Carlos de Oliveira Jr. – Poeta sertanejo
Roberta Lessa – Congada do Divino
Pedro Chiarini Neto – Congada do Divino
Stevenson Moschini Carlos – Congada do Divino
Manuel Guglielmo – Conselho Municipal de Cultura
Bandeirante – Cururu
Francisco Galvão - SESC

Maria Virginia G M. Pinton, Artista Plástica e Arte educadora


(Mayara Cristofoletti)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Leitura da Carta Aberta em Defesa das Tradições Piracicabanas marca o encerramento do Fórum

(Vanessa Piazza)

Com o objetivo de alertar as autoridades locais, estaduais e nacionais sobre a necessidade de preservação do patrimônio cultural imaterial da cidade, o 1° Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba, ocorrido no Sesc Piracicaba entre os dias 22 e 24 de agosto, encerrou as atividades com a leitura de uma Carta Aberta que propõe ações para o fortalecimento das manifestações populares da cidade, bem como para a manutenção da identidade cultural do município. (Leia o documento na íntegra)

De acordo com Chico Galvão, programador cultural do Sesc, “a Carta em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba foi redigida a muitas mãos e a expectativa é que ela traga mais apoio por parte das iniciativas privada e pública, para que os elementos da cultura popular da cidade possam ganhar mais visibilidade na comunidade local e atrair um número maior de admiradores e protetores comprometidos com a manutenção das características originais das manifestações”.

O conteúdo do documento foi elaborado de acordo com as carências e necessidades apresentadas no decorrer do Fórum por integrantes e representantes das diversas manifestações piracicabanas, como o batuque de umbigada, o samba de lenço, o samba de roda, o cururu, a catira, a congada do Divino e os Bonecos do Elias.

Ainda na perspectiva da conservação e resguardo da cultura popular de Piracicaba, pretende-se criar um calendário anual com eventos que busquem fortalecer os laços sociais entre as tradições e também fomentar a criação de um público que participe ativamente das manifestações.

Vale ressaltar que este foi apenas o ponto de partida. Portanto, faz-se necessário que outros Fóruns ocorram e que a comunidade em geral se comprometa com o rico acervo cultural da cidade, para que a História e a Memória do povo piracicabano possam ser mantidas e preservadas.

O Fórum foi organizado pelo Conselho Municipal de Cultura (ConCult), pela Associação Pró-Cultura, pelo Sesc Piracicaba e contou com a parceria do curso de jornalismo da Unimep ( Universidade Metodista de Piracicaba).


Congada do Divino se apresenta no último dia do Fórum

(Mayara Cristofoletti)

No domingo, dia 24, o 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba abriu seu último dia de discussões com uma apresentação da Congada do Divino, na lanchonete.

A apresentação contou com todos os cinco tipos de dança que o grupo realiza, como a Dança do Lenço e Caninha Verde e, no final, até mesmo os espectadores foram convidados a dançar junto ao grupo.

O grupo da Congada do Divino foi uma das tradições defendidas pelo Fórum devido a sua importância histórica na tradição cultural da cidade. A Congada faz parte de uma das principais comemorações de Piracicaba, a Festa do Divino, uma antiga manifestação religiosa em devoção ao Divino Espírito Santo.


Confira trecho da apresentação do grupo:

Rodas de Conversa unem tradições visando ações em conjunto

(Iuri Botão e Karla Morato)

As rodas de conversa do sábado, 23, foram marcadas por uma característica principal: ressonância. Enquanto a programação previa rodas individuais para que cada grupo discutisse seus problemas e apresentasse novas soluções, o que ocorreu foi uma roda unificada, coordenada por Manuel Guglielmo, do Conselho Municipal de Cultura, e Rita Moura, da Associação Pró-Cultura de Piracicaba, que repetiu muitas das discussões da manhã de sábado.

Após a apresentação de Cururu, todos os representantes das tradições que estavam no SESC formaram uma única roda de conversa, visando que os problemas específicos de cada tradição fossem discutidos por representantes de todas elas.

Dando início à conversa, Guglielmo sugeriu que se discutisse a possibilidade de criação de um espaço que servisse tanto para educação e propagação da tradição, quanto para que os “cururueiros” pudessem se apresentar com mais freqüência, criando assim um público.

Após esse momento, a tônica da discussão ficou em torno da necessidade de união entre as manifestações. A divisão de opiniões era entre a criação de um único ponto, para todas as tradições, ou de um circuito, para facilitar o acesso da população da periferia, que teria dificuldade de se unir em um só local por conta do transporte. Em meio à discussão sobre a criação de um novo ponto, a pesquisadora Iara Machado colocou a questão da burocracia para se criar um novo local e contar com verbas municipais, e que, assim, seria melhor usar espaços já existentes.

Outra proposta referente às verbas do poder público foi a transformação da Casa do Povoador em museu, o que contaria com verbas do poder público. Gustavo Torrezan citou apenas que a Casa do Povoador teria dificuldade de abrigar todas as tradições de uma só vez.

Finalmente, Vanderlei Bastos, do Batuque de Umbigada e Fátima , citaram a necessidade de parceria com a Educação, para que se criassem propostas pedagógicas e que o espaço das escolas pudesse ser usado também com essa finalidade.

No fim da tarde a decisão foi de concluir o debate no domingo.

Cururueiros dão show e animam Fórum

(Vanessa Faria)

As atividades do sábado à tarde, segundo dia do 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba, tiverem início com a apresentação de Cururu, que reuniu diversos curueiros da cidade.



A apresentação contou com a participação de Abel da Silva Bueno, cururueiro há 54 anos. Apaixonado pela tradição, ele se apresenta todos os sábados na região de Piracicaba, onde segundo ele, nasceu a tradição do cururu, e o seu dom de fazer rimas. “Tudo nos serve de inspiração para a criação das rimas, o canto das piracemas, o rio de Piracicaba e a natureza”, disse após a exibição.

Abel Bueno considera importante a iniciativa do Fórum de divulgar o folclore brasileiro e diz também que o poder público poderia dar mais atenção para as tradições populares, incentivando as crianças e os jovens através de oficinas de folclore ou fornecendo um espaço para que elas aconteçam.

domingo, 24 de agosto de 2008

Lideranças iniciam debate de Carta Aberta

(César Cabrera)

A Comissão responsável pela elaboração da Carta Aberta em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba realizou sua primeira reunião na manhã deste sábado ,23. O grupo é formado por representantes da Catira, dos Bonecos de Elias, do Cururu, da Congada do Divino, do Batuque de Umbigada, do Carnaval, do Samba de Lenço, membros de associações culturais, do Conselho Municipal de Cultura e outras instituições da cidade interessadas no tema.



O objetivo foi dar início às discussões dos assuntos que serão incluídos na Carta, que será concluída na tarde de amanhã (24). O encontro teve início com a exposição pelo Programador Cultural do Sesc, Francisco Galvão, o Chico, da proposta de dinâmica a ser usada na reunião.

Um ponto relevante do encontro, unânime na opinião de todos, foi a falta de um representante do ensino do município. “Seria interessante que houvesse alguém da Diretoria de Ensino nesta reunião”, lembrou a professora de arte e artista plástica Maria Virginia Pinton. Luiz Veloso, do Cururu, defendeu também a importância de que as tradições sejam inseridas no ambiente educacional, e afirmou que “a educação é fundamental em todas as atividades”. Seguindo esta linha, Vanderlei Bastos - do Batuque de Umbigada - falou que “tudo é questão de educação. As manifestações Culturais do nosso município devem chegar às crianças também através das escolas”.

Outro assunto que fez parte da colocação da maioria dos presentes foi a importância de resgatar, registrar e transferir para as gerações futuras cada tradição. Para Roberta Lessa – uma das representantes da Congada do Divino - “se a gente não guarda a memória, ficamos sem raiz”. “As manifestações que fazem nossas raízes”, complementou Manuel Guglielmo – do Conselho Municipal de Cultura.

Após todos exporem suas idéias sobre o tema, deu-se início a colocação das propostas para elaboração do documento e também de demais ações culturais para resgatar o patrimônio imaterial do município. Os principais pontos foram:

- Levantamento dos espaços físicos disponíveis para futuras apresentações dos grupos;

- Inclusão dos números das leis existentes relacionadas à cultura; inclusive o número da lei municipal que obriga o prefeito eleito no próximo ano (2009) à criação e construção de um espaço que abrigue as manifestações culturais;

- Exigir mudanças – quando necessário - nas leis existentes, para melhor proteger as manifestações imateriais (foi lembrado que o Codepac - Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico Cultural não tem leis que protejam manifestações culturais imateriais);

- Cobrança pessoal – e não só através da carta - por parte dos membros do Conselho junto às autoridades municipais;

- Realização de manifestação cultural conjunta, onde estejam presentes todas as manifestações do município;

- Inclusão do poema de autoria de “Marcha Lenta”, lido na noite de ontem (22);

Vale lembrar que no período da tarde de hoje serão realizadas rodas de conversa de cada tradição, onde surgirão novas idéias a serem incluídas no documento final.

Poeta declama na abertura do Fórum

(Camila Gusmão)


Marcha Lenta, Poeta Sertanejo declamou na abertura do Fórum a poesia “Noiva da Colina” de sua autoria.
Antonio Carlos de Oliveira Júnior, mais conhecido como Marcha Lenta, já publicou três livros, o mais recente “Poesias Sertanejas”.




Noiva da Colina

Dia primeiro de Agosto
É um dia de muito gosto
Parece que vejo o rosto
Daquela linda menina
Que de noiva se vestiu
E tanta glória conseguiu
Na linda cachoeira do rio
Formando serração fina
As veis eu olho pro céu
Contemplando tiro o chapéu
Parece que vejo o véu
Da linda noiva da colina
Piracicaba tem muito progresso
A Deus eu sempre peço
Que aumente o sucesso
Com a proteção Divina
É coisa sincera e pura
Que vai tê muita ventura
Feita com grande estrutura
Também muita disciprina
Fais coisas de grande valor
Que transporta pro exterior
Fabricado com muito amor
Da linda noiva da colina
Piracicaba é potencial
É cidade industrial
O antigo Engenho Central
Foi uma das primeira Usina
Que dos grandes cafezais
Transformou em canaviais
Que até combustível fais,
Substituindo a gasolina
Tem no esporte um grande membro
Da linda Noiva da Colina
Piracicaba é uma cidade paulista
Que tem muitos artista
O combate dos repentista
Num precisa carabina
O armamento é a viola
O violeiro que controla
Piracicaba tem boa escola
Pra ensiná a medicina
O meis de agosto temos festejano
Piracicaba aniversariano
Duzentos e quarenta e um anos
Parabéns linda Noiva da Colina!




Marcha Lenta

Marcha Lenta declama "Noiva da Colina":

sábado, 23 de agosto de 2008

Antropóloga mostra importância do patrimônio imaterial

Texto de Camila Gusmão e Vanessa Haas

“Patrimônio é aquilo que herdamos, seja natural, imaterial ou material”. A afirmação foi feita pela antropóloga Iara Machado, em palestra na abertura do I Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba.
Segundo ela, tudo é patrimônio se for reconhecido como tal, ou seja, o sentido dado é imaterial, mas o valor das coisas não, a tradição de cada país, Estado e cidade também é um patrimônio.
Iara salientou que a palavra tradição significa a transmissão de sentimentos, ações, ideais.”È um laço do passado com o presente e o futuro, é uma identidade móvel, mas com uma raiz que a torna fixa em um local”, disse.

Em Piracicaba, segundo a pesquisadora existem patrimônios reconhecidos por todos os habitantes da cidade, tal como o Engenho Central, Rua do Porto, Casa do Artesão, Mirante entre outros, porém existem patrimônios que nem todos conhecem ou valorizam.Estes são os patrimônios imateriais que representam a história, a tradição e a cultura da cidade.

Foto: Vanessa Haas














"Por que não a Festa do Divino ser ensinada nas escolas municipais?", propõe Iara Machado

Por outro lado, segundo ela, Catira, Cururu, Batuque de Umbigada, Samba de lenço, Congada do Divino e Bonecos de Elias são alguns desses patrimônios que estão se tornando cada vez mais “ocultos” perante a comunidade piracicabana.

De acordo com a antropóloga Iara Machado, a globalização é um fator responsável por essa perda dos costumes. Ela torna as coisas iguais e com um sentido consumista e não cultural.
Em sua opinião, tudo acaba tornando-se alvo de negócios e transações de compra e venda, as tradições não devem ser mantidas por essa lógica, mas sim por representarem um povo, uma história.

Após a palestra com Iara, o jornalista e representente do Celacc (Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação) Denis Oliveira, falou sobre a importência da preservação das tradições populares. Fez críticas aos meios de comunicação, que não oferecem espaços para a divulgação dessas manifestações, contribuindo para o seu desaparecimento.


Foto: Vanessa Haas














Cerca de 140 pessoas compareceram à abertura do Fórum no SESC Piracicaba

Viva a cultura popular de Piracicaba!

Texto de Henrique Inglez de Souza

A manifestação dos representantes das entidades responsáveis pela oraganização do 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba, na abertura do evento, na sexta-feira, 22, definiu os seus objetivos e as expectativas dos participantes. Manuel Guglielmo, do Conselho Municipal de Cultura, Rita Moura, da Associação Pró-Cultura de Piracicaba, e Chico Galvão, programador cultural do Sesc Piracicaba, defenderam a importância crucial do envolvimento da comunidade na defesa das manifestações da cultura popular da cidade.




Foto: Camila Gusmão






Chico Galvão, programador cultural do SESC Piracicaba
Segundo Chico Galvão, o que está em jogo, afinal de contas, são tesouros da cultura piracicabana. “O objetivo desse fórum é maior”, explicou. “Pretendemos redigir uma carta aberta em defesa dessas tradições, que hoje encontram-se ameaçadas, algumas delas até pelo desaparecimento”, completou. E, para dar o tom da importância do tema, enfatizou: “Viva a cultura popular de Piracicaba!”.

Foto: Camila Gusmão














Manuel Guglielmo, do Conselho Municipal de Cultura e Rita Moura da Associação Pró-Cultura de Piracicaba
Chico Galvão lê texto de sua autoria na abertura do Fórum:

Batuque de Umbigada abre Fórum

Texto de João Lopes e Iuri Botão
O 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba teve início na noite de sexta-feira, 22 de agosto. O grupo Batuque de Umbigada começou sua apresentação às 20h, com a participação do mestre batuqueiro Herculano, da cidade de Tietê.
Foto: Camila Pinto














Apresentação do Batuque de Umbigada na abertura do Fórum

Vanderlei Bastos, organizador e participante, falou sobre a história e as origens da dança, além de contextualizar os espectadores a respeito do que acontecia no palco. Participaram da apresentação jovens do projeto “Casa do Batuqueiro”, que fazem parte da nova geração do batuque de Piracicaba.

Mestre Herculano ainda cantou e tocou músicas conhecidas do público, como uma adaptação da música de Newton de Almeida Mello, que hoje é hino de Piracicaba, feita por mestre Dado.
Após o Batuque, o poeta piracicabano Marcha Lenta declamou uma poesia em homenagem ao aniversário da cidade de Piracicaba.
Confira trecho da apresentação do Batuque de Umbigada, no Teatro do Sesc:

Catira: tradição dos pés e das mãos

Texto de Rafaela Ometto e Vanessa A. Haas

Uma dança acompanhada pelo som de uma viola e pelas batidas de pés e mãos resume a Catira. A tradição cultural é preservada em Piracicaba unicamente pela família Cantovicz, e representada em uma única palavra: envolvimento. O bater dos pés e das mãos acompanhando o som da viola e as rimas do violeiro remetem às antigas comemorações a vários santos, porém, ela não é mais tão conhecida como antes.

Foto: Rafaela Ometto catira









Família Cantovicz dançando a Catira

Em Piracicaba, a Catira é passada de geração em geração, através de uma família que se reúne para cantar e dançar ao som da viola, embalada por Laurindo, 70 anos, único violeiro que “bate bem a Catira”, e se desloca de Anhembi a Piracicaba simplesmente para fazer o que mais ama. Seu filho, Valmir, 44 anos, o acompanha na cantoria e considera importante que haja essa transmissão de valores familiares, uma vez que eles são os únicos representantes que restam da dança. O tema abordado nas rimas esquematizadas ao som da moda de viola enfoca a natureza, a religião e principalmente a importância que tem a preservação dessa tradição.

Falta de apoio do poder público e desconhecimento por parte da população “nativa” do interior, transformaram a Catira numa palavra estranha de se ouvir e se falar. Graziela Cantovicz, 34 anos, dança entre os homens da família e pode ser considerada uma das poucas mulheres que participa. Ela enfatiza que a falta de incentivo para tradições populares num geral existe sim, e garante que a cidade deixa se receber turistas e se tornar também reconhecida por essas atividades por não investir adequadamente na cultura local, que é muito rica.

Foto: Rafaela Ometto

Catira: tradição de pai para filho


Por conta do Dia do Folclore, comemorado no dia 22 de agosto, acontecem mais apresentações das manifestações culturais, porém, segundo Clayson, 36 anos, é somente nesta época que acontecem. Nas apresentações já feitas pela família Cantovicz, que acontecem normalmente em São Paulo, o público recepciona muito bem, acolhe e gosta da dança, passando a admirar a verdadeira Catira que a família transmite.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Batuque de Umbigada

Texto de João Lopes e Karla Morato


O “Batuque de umbigada” dança originaria da África trazida ao Brasil pelos navios negreiros na época de colonização e instalada na região do Médio Tietê (Tietê, Porto Feliz, Laranjal, Pereiras, Capivari, Botucatu, Piracicaba, Limeira, Rio Claro, São Pedro, Itu, Tatuí) é uma manifestação que vem sendo preservada em Piracicaba e transmitida por gerações.


Foto: Claudia Assêncio








Representantes do Batuque de Umbigada em quatro gerações


Dança que assemelha o movimento do corpo com o axé e a capoeira tem como principal função festejar a fertilidade. “O Batuque é uma manifestação em que, junto à batucada, há uma dança na qual um homem e uma mulher encostam seus umbigos como parte da coreografia”, comenta o representante da tradição cultural Vanderlei Bastos. O elemento principal da coreografia é a "umbigada", ou seja, quando o ventre da mulher bate à altura do ventre do homem. Os participantes dão passos laterais arrastados, depois levantam os braços, batendo palmas acima da cabeça, inclinam o corpo para trás e dão vigorosas batidas com os ventres. Esse gesto é repetido ao fim de todos os passos. “A umbigada tem uma espiritualidade muito grande. Dentro da cultura banto existe a visão de que o umbigo é a nossa primeira boca e o ventre materno a primeira casa, a umbigada celebra o momento único em que eles se tocam, é como uma ode, um agradecimento ao dom da concepção, uma ação rápida e mágica, materializada através da dança” explica Bastos.

Na dança são utilizados os seguintes instrumentos: o tambú, uma espécie de tambor feito de tronco oco de árvore; o quinzengue, um tambor mais agudo que faz a marcação rítmica do tambú e nele se apóia; as matracas, que são os paus que batem no tambú do lado oposto do couro e os guaiás, chocalhos de metal em forma de cones ligados. todos os instrumentos que levam couro, são afinados em uma fogueira, tornando mais mágico e característico o ritual. Em cada parte do Brasil o batuque recebe algumas variações tornando cada vez mais característico esse estilo que deu origem ao tão famoso samba.

Alguns grupos preservam essa tradicional dança fazendo festas e eventos para trazer o povo para essas belíssimas demonstrações de cultura afro-descendente. As festanças mais comuns são as de datas fixas, como a do dia 13 de maio, a festa de São Benedito em Tietê e o sábado de Aleluia. Há workshops para levar a manifestação à população e acabar com os preconceitos sobre as culturas africanas e indígenas.


Foto: Claudia Assêncio

Dona Benedita, representante da primeira
geração do Batuque de Umbigada

Congada do Divino: renovação e preservação da história

Texto de Iuri Botão e Mariana Fiocco


A Congada do Divino de Piracicaba, que tem coordenação de Roberta Lessa, mantém um grupo folclórico que preserva suas tradições. Além do grupo principal, formado por cerca de 60 adultos, há ainda outros projetos como a “Congada Viva”, que busca reunir arquivo fotográfico e documental a respeito da história do movimento, e o o “Congada Mirim”, para-folclórico de crianças para dar sustentação ao principal.





A Congada do Divino teve origem em uma dança pagã que homenageava os reis do Congo, na África. Uma vez no Brasil, trazida pelos escravos, a dança passou a ter caráter de resistência ao aculturamento a que eram submetidos. Encampada pela Irmandade do Divino Espírito Santo, ela foi “divinada, para que pudesse fazer parte dos da Festa do Divino”, segundo Roberta.

Durante a apresentação, são feitas cinco danças diferentes: a Congada, de saudação entre o Rei e a Rainha; a Dança do Lenço, que é um ritual de acasalamento; a do Tangarás, que é uma saudação à Piracicaba e ao Rio; a Caninha Verde, que tem objetivo de descontrair; e o Baixão, que é de abertura. Nos ensaios, bem como em apresentações em eventos não-religiosos, a imagem de Nossa Senhora permanece deitada, só sendo colocada em pé nas festas religiosas.

Segundo Roberta, a Congada de Piracicaba pleiteia o tombamento oficial enquanto patrimônio histórico e cultural do município junto ao Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba) além de estarem em contato com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para dar maior fidelidade à Congada enquanto manifestação folclórica.

A Rainha, Maria Aparecida dos Santos (foto), “dona Tita” de 79 anos, que participa da Congada há 52 anos, considera que desde que participa da Congada não ocorreram grandes mudanças na dança. Patrícia Macedo, 22 anos, é regente desde os 12 e tem opinião diferente. Ela considera que a dança sofreu várias mudanças nos últimos anos devido ao “envelhecimento” dos participantes, que atualmente não têm condições de fazer os mesmo giros de antigamente.

O grupo piracicabano costuma se apresentar em diversas ocasiões e locais do país, quando são convidados. A apresentação principal ocorre anualmente na Festa do Divino, na segunda semana do mês de Julho.



Depoimento de "Dona Tita", Rainha da Congada



Trecho de ensaio da Congada do Divino, no Largo dos Pescadores

Cururu: uma paixão a ser preservada

Texto de Vanessa Haas e Camila Gusmão

Tradição folclórica do interior de São Paulo, o cururu tem presença importante em Piracicab e será uma das manifestações defendidas no 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba.

Cururu é o desafio trovado ao som de violas, mais comum no Médio Tietê. Seus respresentantes são numerosos e respeitados cururueiros e trovadores. Não há Festa ou Pouso do Divino sem o som do Cururu, que muitas vezes se prolonga pela noite afora com o revezamento de vários cururueiros.










Com presença significativa na região do Vale do Tietê, nas cidades de Conchas, Laranjal Paulista, Piracicaba, Tietê, Porto Feliz, Tatúi, o Cururu já foi apresentado no exterior por vários cururueiros.Um trovador que teve experiência foi Antônio Santos Filho, 73, mais conhecido como Bandeirante, que se apresentou aos franceses juntamente com seu parceiro Mané Moreira.


Confira depoimentos do curueiro Bandeirante sobre o tema:


Como foi representar o Brasil na França?
Bandeirante: Tive a felicidade de representar o folclore brasileiro na Europa. Foi uma virtude para nós representar o Brasil no exterior e essa foi uma coisa de Deus. Eu participo do folclore brasileiro mesmo, toda tradição é comigo mesmo”.

Mazero gravou CDs e DVD
O conhecido cururueiro João Mazero já gravou duas séries de Cds - “Gracia do Cururu” e “Os ban ban ban do Cururu” e um DVD - “Piracicaba x Sorocaba”. Para ele, mais que uma profissão, o cururu é uma paixão.

Confira algumas de suas falas:

Onde o senhor já se apresentou?
Mazero: Gosto muito dessa profissão, tanto canto cururu sério como brincando. Faço shows e já tive a felicidade de me apresentar em todos os canais de televisão. Tô no meio desses campeões ai, Abel Bueno, Bandeirante. Comecei a cantar o Cururu transmitido pela rádio Educativa FM, de Piracicaba, e dali em diante já cantei em vários pousos do Divino, tenho muita amizade com todos os cantadores.

O Cururu original sofreu muitas mudanças?
Mazero: Sim teve. Antigamente o Cururu era cantado com muito respeito, a gente pedia licença para o dona da casa onde seria o pouso, hoje é mais brincadeira.

Tradição do Cururu não recebe apoio

Segundo Abel Bueno (foto) , 75, cururueiro desde 1954, com prestígio nacional, o nome Cururu tem origem em dois significados: “o caldo de feijão que era servido antigamente com caruru, antes de se iniciarem as orações, e o sapo cururu que pula em roda, pois o Cururu era cantado em roda”.

Seu Abel conta que cantava Cururu quando este ainda era tido como uma oração, uma devoção a algum santo. O cururu era cantado nas festas do divino e tinha temas religiosos, mas com o tempo a tradição foi se modernizando e atualmente é um desafio de quatro cururueiros, dois contra dois.
“O Cururu em si nunca vai acabar, apenas os cururueiros que morrem, o Cururu permanece. O Cururu chegou em Piracicaba em 1937, antes dos pousos, o qual o primeiro foi realizado em 1948 na zona urbana de Piracicaba, na casa do Ribeiro, ele existe a muito tempo”, conta Abel.

Abel, Bandeirante, Milo da Viola e Dirceu Chiodi também não se conformam com a falta de apoio ao Cururu e as demais tradições. “Não há mais incentivo, os mais novos não gostam do Cururu e com razão, pois não foi ensinado a eles o sentido disso, não foi mostrado o Cururu legítimo”, fala Bandeirante.

“Se os nossos políticos incentivassem essas tradições, seria mais fácil ser um Cururueiro e poder ensinar o que é o cururu. Falta apoio. Falta valorizar a história”, enfatiza Abel Bueno

Vídeos da entrevista:





Caninha Verde



Cururu Legítimo



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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Hoje tem Samba de Lenço!

(Henrique Inglez de Souza e Cláudia Assêncio)

O Brasil tem genuínos representantes de sua cultura em variadas formas de expressão. Das mais populares, o samba desbanca com vantagem as demais. Pergunte a um estrangeiro, por exemplo, o que ele sabe sobre nosso país e o clichê “samba e futebol” vem quase de imediato. Pejorativo? Não, apenas a demonstração do que um patrimônio cultural rico é capaz de promover.

Dentro do samba também há subgêneros que mudam conforme a região. Em São Paulo, a forma mais conhecida atualmente é o cosmopolita. Suas origens apontam raízes cravadas no interior do Estado, em cidades como Piracicaba. Entre essas raízes está o samba de lenço, que tem o uso de um lenço como seu adorno mais característico.

Ficam homens de um lado e mulheres do outro, cada um com seu lenço respondendo à entoada dos cantadores. No enredo das letras destacam-se temas cotidianos e pequenas crônicas de acontecimentos locais: homenagens, sátiras, romance. Tudo embalado à levada de instrumentos de percussão (pandeiro, caixa e chacoalho – geralmente artesanais).

Hoje, o samba de lenço já não acontece com a mesma intensidade de outrora. São poucos os que transmitem o que sabem às gerações emergentes. Um deles é Antônio Carlos Ferraz (foto), que aos 94 anos é um dos últimos remanescentes dos áureos tempos do samba de lenço piracicabano. Os mais velhos começavam o samba e logo vinham os jovens”, recorda-se. “Se alguém cantasse uma modinha bem bonita, outro iria logo querer cantar uma melhor. Era à base do improviso mesmo”.

A Antonio Carlos juntam-se aqueles que ainda mantêm a tradição viva, como sua filha Ana Luiza Ferraz, 61, e o músico e agente cultural Antonio Filogenio de Paula Junior, 37. Os três concederam entrevista sobre o samba de lenço.

Quando é mais comum acontecer as festas com samba de lenço?

Ana Luiza: Especialmente, na época de Festa Junina. Ao invés de se dançar a quadrilha, rezávamos o terço, reuníamos todo o povo e iniciávamos o samba de lenço.

Quais modinhas vocês lembram?

Seu Antônio: Havia umas modinhas engraçadas, como: ‘Em Tietê, muita gente quer ser eu/ Furaram seu chapéu como furaram o meu’. Em seguida, formava-se a festa, com um cantando e outro respondendo.

Ana Luiza: Também tem aquela: ‘O Doutor é bom, Seu Luís ainda melhor/ Dona Ana, prata fina, e Seu Luís é ouro em pó’. A turma respondia: ‘Cocoró-cocó, cocoró-cocó/ o galo passa ruge e a galinha passa pó’.

O que poderia ser feito para reafirmar o samba de lenço?

Junior: Um dos caminhos para revitalizar o samba de lenço é colocar as crianças novamente em contato com essa tradição. É atualizar. Toda cultura tradicional, quando não se torna contemporânea, fica fadada à extinção. Vira um produto folclórico, uma peça de museu. Ela deixa de ser viva por não ser mais autêntica. Por exemplo, não podemos esperar que uma criança hoje cante uma modinha que fale de carro de boi. Ela não convive com isso e nem vê isso. É uma outra realidade. A geração atual tem que dialogar com as informações do seu tempo. Essa atualização é uma adaptação necessária para que a cultura do samba de lenço continue viva.


Vídeos da entrevista:


Afinação do Pandeiro



Modinhas






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quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cultura popular e Internet

As manifestações culturais populares de Piracicaba constituem parte importante da identidade do município. Expressões de arte como a Congada do Divino, Batuque de Umbigada, Samba de Lenço, Samba de Roda, Catira, e Cururu, entre outras, pertencem ao patrimônio histórico cultural da cidade e sua difusão e preservação são os principais objetivos deste blog.

A Internet é uma ferramenta rica em recursos para a difusão de práticas culturais. Entra eles está o blog, cuja flexibilidade e arquitetura facilitam a apresentação deste universo cultural popular na rede. Além de sistematizar informações sobre essas manifestações, este espaço se propõe a contribuir para a documentação do 1º Fórum em Defesa das Tradições Populares de Piracicaba, a ser realizado no Sesc, no período de 22 a 24 de agosto.

O Fórum é uma realização do Sesc de Piracicaba, Associação Pró-Cultura de Piracicaba e Conselho de Cultura, com apoio do Curso de Jornalismo da Unimep.